quinta-feira, 19 de novembro de 2009

a pianista

hoje mais uma vez, escrevo sobre o dia de ontem mas não só.
"não só?"
não. o que aconteceu ontem fez recordar um telefonema... uma conversa... uma pessoa que não conheci, melhor... não conheci pessoalmente mas de ouvir tantas histórias sobre a pessoa (... e sempre com muito carinho e admiração) posso escrever que ontem recordei uma pessoa que conheci "um pouco".
ontem no final da tarde... acontecerem duas coisas que depois originou a terceira coisa.
"e... o que foi a 1ª coisa?"
a 1ª... foi um óptimo encontro com a amiga s. estava combinado: ontem ao final da tarde no ifp. e assim aconteceu. foi muito bom voltar a estar com ela... conversar com ela... sorrir com ela. falámos de muitas coisas... sonhos, projectos, vontades... objectivos. bebemos uma bebida quente e depois... a 2ª coisa.
"e foi o quê?"
um agradável e maravilhoso recital de piano com a pianista gilda oswaldo cruz. a evocação dos 50 anos da morte do compositor brasileiro heitor villa-lobos, este foi o mote para o concerto. um concerto que levava-nos a viajar até ao brasil e recordar muita coisa. a mim e à amiga s.
e tudo começou com uma introdução... melhor, uma magnífica e "doce" conversa da pianista fazendo uma introdução sobre o compositor e as músicas que seriam tocadas naquela noite, naquele concerto. minutos de conversa... de histórias, palavras, significados e sons.
"e as músicas? o que foi tocado?"
choros nº5: alma brasileira, 6 cirandas para piano, músicas do guia prático nº11 e bachianas brasileiras nº4.
... da "conversa solta" a música. a pianista virou-se, colocou os dedos no piano e num primeiro gesto, começou o concerto. depois... depois foi maravilhoso ouvir. mas não só ouvir.
"não?"
não. também foi muito bom ver. ver os movimentos das mãos, a expressão da pianista e... sentir o som das teclas até ao final. foi bom ver aquele "quadro perfeito". um piano ao centro da cena, uma pianista a tocar com um vestido negro o qual fundia-se com o palco e o fundo preto.

ouvia a música... olhava para aquela mulher e...
"... o que aconteceu? ... foi a 3ª coisa?"
sim... aconteceu a 3ª coisa. naquele momento, enquanto via a pianista a tocar... ouvia aquela música, recordei um telefonema com a tia b. aqui quero abrir um parêntese ( para escrever que este telefonema não aconteceu agora, mas só hoje escrevo aqui no tecto. não sei porquê só hoje... mas achei sempre que não era o momento de escrever. foi um telefonema que ficou na minha memória e recordo muitas vezes. não sei porquê mas recordo. e ontem, depois de ver aquela pianista, escrevo sobre aquele telefonema... fecho parêntese ).
sim... aconteceu a 3ª coisa. naquele momento, enquanto via a pianista a tocar... ouvia aquela música, recordei um telefonema... uma conversa com a tia b.
e as nossas conversas são sempre longas, tão longas como a distância que separa lisboa e o rio. falamos de muita coisa e naquele dia... no meio da conversa uma notícia: dias atrás a avó do g, pianista e amiga da tia b tinha morrido.
escrevo aqui no tecto que durante o tempo que vivi no rio, ouvi muitas histórias desta senhora, uma talentosa pianista, uma mulher que a tia b admirava muito. uma mulher já com muitos anos de vida e com muitas histórias. algumas eu conheci. histórias das suas actuações no teatro municipal, nas salas de música. histórias passadas em grandes épocas; o glamour do rio de janeiro... o exotismo, as festas... os concertos no copacabana palace, as pessoas que conheceu, os acontecimentos que viveu... o modernismo brasileiro... e muito mais.
uma vida muito admirável. uma vida belíssima. uma senhora, uma pianista que um dia fechou o piano e não voltou a tocar.
... por isto, escrevo aqui no tecto que, apesar de não ter conhecido pessoalmente a avó do g, sinto que, de algum modo, conheci-a "um pouco".
foi uma noticia que eu senti mas a tia b sentiu, naturalmente, ainda mais. do outro lado do telefonema, as memórias eram recordadas com muito carinho, as histórias eram contadas... e a tristeza era expressa pela sua voz e pelos momentos de silêncio. do meu lado, os meus olhos encheram-se de água.


não sei porquê mas ontem... diante do "quadro perfeito", ao som daquela música, lembrei-me mais uma vez do telefonema, da conversa... da pessoa que conheci "um pouco".

1 comentário:

Mari disse...

Oi Ri, amo ler seus posts, e esse me emocionou...
bjos e saudades!